
No artigo passado, O ABCD das Finanças Pessoais e dos Riscos, falei bastante sobre nossa inabilidade em lidar com o futuro, com a noção de incerteza e risco e como a ciência das finanças desenvolveu instrumentos que nos possibilitam ter um pouco mais de segurança quando às nossas decisões de investimento.
Risco, então, é a probabilidade, a chance de que algo aconteça. Um problema, normalmente, vide os principais riscos classificados no mundo das finanças: risco de mercado, de crédito, de liquidez, entre outros.
E em se tratando de investir, na tentativa de reduzir os riscos e aumentar o retorno de nossos recursos financeiros, segundo a Moderna Teoria do Portfólio de Markowitz o ideal é buscar a DIVERSIFICAÇÃO com base na ideia de CORRELAÇÃO entre os ativos financeiros que você adquire.
CORRELACIONADO POSITIVAMENTE
Correlação é uma medida estatística que procura, com base no PASSADO, predizer o FUTURO. De forma simplificada, é isso.
Com base no histórico de retorno de um ativo comparado com o mesmo histórico de outro ativo, podemos auferir com certa precisão se eles se moveram na mesma direção, na direção oposta ou se não tem relação alguma.
Exemplo disso, se eu quero comprar ações da Petrobras, mas já comprei no passado cotas do BOVA11 (ETF que acompanha o índice Bovespa), e ao mesmo tempo eu não quero aumentar o risco da minha carteira, talvez não seja a melhor decisão comprar PETR4.
Por que não, Ivan?
Porque quando as cotações do índice Bovespa sobem, em geral as cotações das ações da Petrobras sobem de forma igual, com os mesmos percentuais de variação.
O que chamamos de ativos perfeitamente correlacionados, ou com correlação positiva (+1).
Mas você NÃO quer aumentar o RISCO, lembra? Se acontecer o contrário, a Bolsa cair, muito provável que a Petrobras cairá também então o seu tombo será muito grande.
CORRELACIONANDO NEGATIVAMENTE
Por outro lado, no exemplo acima, você poderia, ao invés de PETR4, comprar o iShares S&P 500 Value ETF, um BDR de ETF que acompanha o índice S&P, totalmente descorrelacionado com a Bolsa Brasileira. Correlação negativa ou zero.
E/ou comprar ativos de renda fixa, como uma debênture, Tesouro IPCA ou cotas de fundos imobiliários, que costumam ter correlação negativa com a Bolsa.
Então partindo da premissa de NÃO aumentar o risco da sua carteira de investimentos, se a Bolsa cair, você pode perder dinheiro ali e provavelmente compensará em certo nível nos outros ativos acima.
Esse é o poder e o segredo da CORRELAÇÃO NEGATIVA dentro da DIVERSIFICAÇÃO de ativos.
Cabe lembrar que o estabelecimento da sua carteira de investimentos parte, PRIORITARIAMENTE, da clarificação do seu PERFIL DE INVESTIDOR.
QUEM É VOCE, INVESTIDOR?
O PERFIL DE INVESTIDOR, também conhecido como SUITABILITY, é o resultado de uma análise das suas características em relação a investimentos, e principalmente ao risco envolvido.
O Perfil de investidor é uma classificação do investidor desde conservador (ou ultraconservador), passando por moderado, até arrojado (ou ultra arrojado).
Essa classificação de perfil é uma exigência da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), responsável por regulamentar todo o universo de investimentos, aplicações financeiras, instituições envolvidas e a bolsa de valores, entre outras coisas.
Na instrução normativa no 539, a CVM fala sobre a necessidade de as instituições financeiras oferecerem aos clientes os produtos de investimentos ADEQUADOS aos seus perfis.
Simples de ser obtido através de algumas questões, o perfil de investidor serve para indicar a carteira de investimentos mais adequada para você.
Em outras palavras: o perfil de investidor define qual tipo de investidor você é.
Sua definição gira em torno de quatro fundamentos: tolerância ao risco, situação financeira, conhecimento do mercado e quais são seus objetivos temporais.
O perfil de investidor tem como base três requisitos principais:
– Segurança
– Liquidez
– Rentabilidade
Dessa forma, as perguntas respondidas tentam clarificar quais destes pilares são mais importantes para você.
Pois na hora de tomar uma decisão de investimento, é normal que você renuncie a parte da segurança, ou da liquidez ou da rentabilidade para chegar aonde pretende com seus investimentos.
E o que você escolher para ser deixado um pouco de lado tem tudo a ver com o seu perfil de investidor.
VOCE É UM INVESTIDOR CONSERVADOR… SERÁ?
Quero começar desconstruindo os conceitos acima.
Por mais que tentemos compartimentalizar o perfil de um indivíduo em dez ou quinze perguntas somente para reduzir o risco do sistema, o risco de ações legais em nome de uma suposta proteção do investidor, é quase óbvio ser impossível conseguir.
Dito isso, um investidor conservador de hoje costuma não ser o mesmo de amanhã.
As pessoas mudam suas preferências, existem os vieses comportamentais, tendências a risco.
PORÉM, há de se ter um piso, uma plataforma de início na jornada e essa é o Suitability, então voltemos ao game.
Se você se sente confortável com a poupança, com o CDB de seu banco, com o Tesouro Direto, com um fundo DI com liquidez diária, a alcunha de conservador é para você.
Mas ela também inclui investidores de LCI/ LCA, de certos fundos de investimentos com baixa classificação de risco, de letras financeiras, até mesmo (para sua surpresa!) para investidores de ações de empresas consolidadas!
MODERADO?
Se você se considera um investidor moderado, você deve se sentir confortável em ter uma tolerância mediana a correr riscos.
Arrisca um pouco mais se, em troca, isso puder expandir suas possibilidades de ganhos. Também é alguém que nem sempre busca por alta liquidez no curto prazo.
Além de tudo, está disposto a equilibrar a carteira, entre renda fixa e renda variável.
Portanto, é o investidor que não pretende se arriscar demais, mas que tenta não comprometer a rentabilidade em busca de máxima segurança.
Um mix de Tesouro Direto IPCA, com Selic e fundos DI, mais CRI/CRA/ Debêntures incentivadas se tornam o arcabouço perfeito de renda fixa onde você quer dormir e descansar relativamente tranquilo, com risco e retorno adequados.
Mas você também já está namorando o mundo do risco, montando sua carteira de ações e fundos imobiliários, bem como criando sua posição internacional através de fundos e BDRs e outros multimercados.
Muito estudo e paciência é o nome do jogo aqui.
AGRESSIVO…. WOW!
Já o investidor agressivo ou dinâmico costuma ser um investidor que pode conviver com as oscilações naturais do mercado.
Em função dessas características, nada mais natural do que esse investidor ser quem melhor se identifica com a renda variável.
Ele sabe que as oscilações fazem parte das características do mercado e dos ativos e, considerando o longo prazo, sabe também que elas são importantes para a valorização do seu investimento.
Montar uma carteira com uma parcela mais reduzida em renda fixa e com menos liquidez não é algo fora do comum para um investidor desse perfil.
Como ele não tem problema em sacrificar a liquidez e o risco para obter o maior retorno possível, ele investe com esse MINDSET.
Olhando de perto, penso que o portfólio dele seria mais ou menos assim:
LCI/LCA, CRI/CRA, DEBENTURES + MULTIMERCADOS + FIIs + BDRs + ETFs + INVESTIMENTOS INTERNACIONAIS + ACOES BRASIL + PRIVATE EQUITY + FIPs…
O Céu é o limite…
PS.: Nenhuma informação acima deve ser considerada como recomendação de investimentos.
Sobre o Autor
2 Comentários
[…] QUEM É VOCE, INVESTIDOR? […]
[…] QUEM É VOCE, INVESTIDOR? […]